sexta-feira, 11 de novembro de 2011

PM, violência e estudantes


Após a polícia militar efetuar o mandado de reintegração de posse do prédio da reitoria da USP, uma foto foi publicada pela grande mídia, em um dos raríssimos momentos do mais próximo que podemos chamar de ''solidariedade'' para com os estudantes.

Esta fotografia tem o poder de condensar em si mesma todo o debate que está sendo travado pelas pessoas sérias relacionadas (ou não) à universidade, e não por polemistas. Uma rápida descrição (prescindível): vemos um soldado que aponta uma arma para o rosto de um estudante, que tem os braços levantados para cima, e agarra com sua mão direita seu próprio cachecol. Não menos assustadora é a cara do policial mais à direita, que olha de soslaio à cena, e parece demonstrar uma frieza profissional perante a situação, que lhe é ordinária.

Espero que esta foto não parece normal para ninguém, pois ela tem sérias questões que merecem ser interpretadas, e alguns índices para o melhor entendimento disso que se passa na USP, hoje, e com a PM brasileira como um todo.

Bom, de início, e mais importante de tudo, temos a questão da direção para a qual a arma está apontando. Não precisamos de nenhum exame de balística para compreender que ela está direcionada à cabeça do estudante. O que o policial faria caso o estudante reagisse?

À esta pergunta, alguns poderiam dizer se tratar de uma arma de balas de borracha. Realmente, não sou um especialista, mas pelo que posso constatar não se trata de uma arma de balas borracha. E, mesmo que o fosse, isso significa que: ela não pode ser atirada de perto e nem direcionada para o rosto/órgãos vitais.

Dessa maneira, podemos tirar algumas considerações:

a) A polícia tem o direito legal, teoricamente, de reagir com força, inclusive de fogo, quando ameaçada. Entretanto, sabemos que o uso da violência legal por parte da polícia extrapola a ordem da legalidade. Esta simples foto o mostra claramente: uma reação do aluno, qualquer que fosse, ou a mínima imperícia do policial, terminaria com a morte do aluno. Basta, para um nível mais macro sociológico, ler os relatórios da Anistia Internacional sobre a polícia militar carioca e paulista

b) Entretanto, isto parece ter tomado outras dimensões pois não se trata mais unicamente daquilo que o sociólogo francês Luic Wacquant chama da ''criminalização da pobreza'', pois começou a tocar um grupo universitário, detentor de um capital cultural suficientemente alto e crítico para que eles se revoltem. Mas uma parte da sociedade parece não entender que a reovlta não é por busca de privilégios, por não ter uma polícia correndo atrás deles quando querem fumar maconha.

A questão é que os alunos da USP estão tentando mostrar para toda a sociedade que é possível obter segurança sem recorrer às atitudes fascistas de uma polícia mal treinada. E isso a USP deve buscar e encontrar, para, como uma instituição de ensino e pesquisa de nível altíssimo, servir de modelo para uma reforma urgente e necessária da própria polícia militar.

Concluo, deste modo, afirmando que não, os estudantes da USP não se revoltam porque querem fumar maconha. Mas colocam em cheque a atuação fascista de uma polícia racista, intolerante, truculenta e assassina, de modo extremamente amplo. Mas colocam em cheque, também, uma questão mais imediata: é este tipo de segurança que a universidade precisa?

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