terça-feira, 8 de novembro de 2011

Um blog trágico e nada cômico

Diogo Salles - pouco importante saber se este é seu verdadeiro nome ou um pseudônimo - possui um blog intitulado ''Trágico e cômico: política, futebol e música, no humor de Diogo Salles''.

Hoje, dia 7 de novembro, nosso caro blogueiro publicou o seguinte comentário,pretendendo-se humorístico: http://blogs.estadao.com.br/tragico-e-comico/2011/11/07/gap-revolution-na-usp-contra-o-imperialismo/ . O título de seu pequeno comentário - que acredito ser impossível chamá-lo de jornalístico - é ''Gap Revolution na USP: contra o imperialismo'', seguido dessa caricatura.

Seu texto segue com uma descrição daquilo que Diogo chama de ''o novo perfil revolucionário'': que utiliza marcas de luxo, anda com carrões importados, e se revolta por não mais poder fumar maconha, além de gozar do tão criticado paitrocínio. Por fim, o blogueiro tenta ironizar a ''revolução'' dos estudantes da USP, afirmando que eles conseguiram o que queriam ''virar meme na internet''.

Acredito que eu tenho alguns bons comentários para fazer sobre este tal Diogo, que teve uma certa aceitação no mundo virtual.

Em primeiríssimo lugar acredito que nosso caro blogueiro jamais tenha pisado os pés na FFLCH. Sua descrição é perfeitamente cabível para uma grande maioria frequentadora da FEA, da POLI e etc. Entretanto, quero deixar claro que considero extremamente reducionista julgar alguém por suas vestimentas e que minha proposta é demonstrar esta concepção de que uma pessoa possa ser julgada pelas suas roupas: podemos ver muitos ''símbolos'' de revolta, como cabelos azuis, embelezando a cabeleira de pessoas ultra conservadoras; e pessoas que se vestem de maneira completamente ''na moda'', com posições extremamente inovadoras. Deste modo, acho que devemos considerar simplória a ideia geral do texto.

Saindo deste preconceito medíocre do blogueiro, não consigo deixar de me questionar sobre suas intensões ao fazer a tal ''piada''. Ora, alguém que se diz um jornalista e que trabalha com humor deve informar ao mesmo tempo que diverte, ou não? Deve apresentar versões provocadoras. Mas provocadoras em nome de quê? Em nome de uma dominação político (e agora militar) que usa do conservadorismo de grande parte da população para defender a manutenção dos problemas sociais como eles são (pois, sim, isso serve ao interesse de uma determinada elite), ou uma provocação que incomode, que proponha uma alternativa, e não seja apenas destrutiva, uma provocação que coloque em cheque a maneira grotesca como o poder político tem se transformado fantasmagoricamente em poder militar.

Me parece que uma referência ao livro do crítico literário russo Mikhail Bakhtine seja imprescindível. Bakhtine, em suas reflexões sobre a obra do escritor francês Rabelais, distingue o humor burguês, negativo e pessimista, do humor medieval, alegre e que colocava em cena uma realidade distinta da vivenciada pelas formas de dominação da Igreja. Não apenas Rabelais estaria ligado à esta segunda corrente, como também muitas correntes e tendências modernistas.

A questão que me coloco é: estaria o blogueiro Diogo ciente das reivindicações estudantis, ou apenas estaria ele se colocando um pseudo-humor, que joga com categorias conservadoras dispersas pelo corpo social, sem ao menos perceber os efeitos reais de seus comentários?

Como sou alguém realmente ingênuo, e acredito que não existam pessoas má-intencionas no mundo (José Sarney, Berlusconi e Hitler à parte), gostaria de aproveitar a crítica ao blogueiro para informá-lo, e a quem quer que esteja lendo este blogue, quais são as reivindicações dos estudantes tão criticados pela mídia. Deixo claro que estou longe de me colocar como porta voz de todos, e de falar que existe uma homogeneidade, mas apenas quero mostrar a clareza e razoabilidade do discurso do movimento estudantil, já que a mídia não o faz.

Acredito estar me alongando muito nessa resposta, mas vou tentar sintetizar:

1. Os alunos da FFLCH (aos quais a mídia e nosso caro blogueiro veem pintando como playboys vagabundos) também estudam no Campus Butantã e estão preocupados com a segurança. O problema é que não estamos de acordo com a maneira como a segurança tem tentado se implementar. Além disso, entre os 9 cursos mais avaliados da USP (que a colocaram recentemente entre as universidades de maior prestígio no mundo, 6 estão na FFLCH).

2. A PM brasileira é considerada a polícia mais violenta do mundo democrático. Ou seja, não considerando países do Irã, Síria, Coréia do Norte, e etc... Para quem gosta da Globo e não acredita em mim: http://g1.globo.com/videos/globo-news/espaco-aberto-alexandre-garcia/v/violencia-policial-no-brasil-mata-1800-brasileiros-por-ano/1578543/; ou para aqueles que prefiram a Record: http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/em-cinco-anos-pm-de-sao-paulo-mata-mais-que-todas-as-policias-dos-eua-juntas-20110607.html; e ainda para quem que se interessar, ver na renomada anistia internacional, em inglês: http://www.hrw.org/node/87020

3. Por quais motivos a universidade, que se quer um lugar de pesquisa e ensino de vanguarda, que buscam soluções para os problemas da sociedade, deve reproduzir, no seu cerne, uma instituição tão putrificada como a Polícia Militar?

4. Em suma, segurança não é sinônimo de Polícia Militar. Afinal, as periferias da cidade de São Paulo estão repletas de PMs e não são nem um pouco seguras.

Os estudantes devem buscar junto com a reitoria soluções para a violência que não passem pelo uso da força policial, para servirem de modelo para uma necessária reforma da Polícia Militar. Entre as propostas concretas, estão: a) implementação de uma guarda universitária extremamente bem treinada e com programas de atualização; b) um treinamento que não reproduza o modo de funcionamento racista, classista e agressivo da PM; c) a integração de comunidades menos favorecidas que se situam em torno da USP na vida da própria USP; d) uma guarda universitária que não ande armada, mas com fácil acesso à polícia armada, em caso único e exclusivo de urgência.

Termino este pequeno artigo com citando um outro, humorístico e verdadeiramente provocador, diferente do Diogo Salles, que se aproxima daquilo que considero um humor de qualidade: http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/herald/brasil/alunos-da-usp-exigem-meia-fianca

2 comentários:

  1. Caríssimo,

    Não conhecia seu blog e tampouco havia visto este post antes de comentar o que segue abaixo no próprio site do JT. Enfim, solidarizando-me:

    "Desde pequena eu escuto que “a direita é burra”.
    E foi na usp que eu entendi por quê.
    Porque o pensamento de direita, além de ser composto por valores medrosos, pequenos e mesquinhos, baseia-se fundamentalmente na ignorância. O pobre diabo que esboçou esta caricatura, por exemplo, nunca deve ter posto os pés no campus Butantã. Ou, no mínimo, faltou àquela aula básica do primeiro ano de qualquer curso de Humanas na qual a gente aprende o conceito de mímeses.
    Digo isto porque, simplesmente, esta caricatura não condiz. Não condiz com a realidade uspiana, muito menos com a realidade do movimento estudantil uspiano. Meu caro pobre e infeliz diabo chargista: dê-se o trabalho de conhecer aquilo que você critica. É o mínimo. E não é nada além da sua obrigação.
    “Alienação”, meus caros, é apelido. Isto aqui sequer é humor. É ignorância da grossa. E lamentável."

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  2. Por etapas:

    - pode ser que nem todo mundo na USP é mauricinho. Mas é fato que a maioria do povo de lá tem grana. E quando digo grana, me refiro a poder pagar uma Mackenzie da vida;
    - eu considero o Diogo engraçado. E você, não? Acontece. O último que tentou agradar a todos morreu crucificado aos 33, reza a lenda;
    - voltando ao povo da USP: são um bando de moleques empolgados com as lutas do passado. Querem causar, botar pra quebrar, protestar e chamar a atenção pra quê? Pela legalização da maconha do campus?
    Se os traficantes quisessem legalizar as drogas, era só pagarem impostos, como o álcool e o cigarro. Triste, mas verdadeiro.
    Nota: além de destruir patrimônio público, ficam pagando uma de intelectuais e se relam neles, já gritam "ditadura! Olha a opressão!!!"
    - a polícia pode ser violenta. Mas quem não deve nada a ela, não tem porque temer a PM, Rota, BOPE ou o que for. Simples assim;
    - se a USP é tão boa em ideias de combate ao crime, por que foram pedir policiamento? E se vivem em nosso país, regido pelas nossas leis e não concordam com elas, por que não pedem emancipação?

    Cara eu gostei do seu blog. É legal ver o ponto de vista deste povo de uma forma que não seja com palavras elegantes ou cartazes de protesto. Mas assim como você não concorda com a luta contra esses maconheiros safados e se expressa,
    eu também não concordo com você e por isto me disponho a debater.

    Abraços.

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